domingo, 4 de março de 2007



A TORRE DE HÖLDERLIN


S
oldado, quem te ama?
Moriturus Salutat
MÁRIO FAUSTINO


Sete bois revestem o escudo de Ajax.

Heitor recusa o seio de Hécuba.

Odisseus se chamará Ninguém.

El Cid é desterrado para Burgos.

Três são os personagens na Comédia.

Robinson está só em sua ilha.

E quem saberá a tua beleza antes que em verdade seja? Digo-te que às vezes a morte se cansa – atravesso-me com a palavra que te desenha: Sol, ave-gema.

Queres amar meu braço descarnado? Queres amar só o que não te ameaça? É isso que assinalas. O que o mundo amarras em teus braços não será a pluma que a tempestade disse-me, ali, depois da tarde?

O poema refina o tempo.

Para o poeta, a palavra é sempre o que anseias, isso que se escreve em diferentes tintas num verso é jovem como a água da manhã mais nova e transparente como a lucidez mais impossível. É sempre o impossível tomando forma, por isso a loucura é uma palavra, e na loucura os loucos conversam, a sós, com Deus. É o amor pelas tempestades. Entre as nuvens.

Por isso Hölderlin é mais criança,

é o mais moço dos poetas.

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