terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

PAI, CONTA HISTÓRIA...


O REI SAPO

(Janosch, 1931 - )

Há algum tempo atrás, quando tudo já era como é, vivia debaixo d’água um rei sapo que tinha sete filhos. Todos eram muito bonitos e bastante verdes, porém o menor deles era o mais verde, tão verde que ninguém ainda conseguiu ver coisa mais verde ou esverdeada sobre a terra. Esse filho tinha, então, uma bola dourada, feita com ouro do sol, com a qual ele brincava todo dia, e nada mais do que isso era o seu fazer. Esse era o seu brinquedo favorito.

Ele embaixo d’água jogava a bola para cima, nadava atrás dela, agarrava-a e trazia a bola para o fundo. Jogava-a de novo para o alto e a segurava. Ele não fazia outra coisa senão isso e assim ele foi se havendo com tal habilidade nessa brincadeira que ele deixava subir a bola dourada cada vez mais alto para conseguir apanhá-la mais adiante quando o espaço entre a superfície da água e a bola era só de um décimo de milímetro.

Pois, se a bola fosse jogada fora da água, ela assim vagaria no ar. É claro. Perder-se-ia para sempre. E foi isso mesmo que aconteceu um dia.

Ele a perdeu, ela escapou da água e fugiu pelo ar.

O príncipe sapo nadou até a superfície e chorou e coaxou, pois ele não podia voar.

Aí, uma senhorita estava por lá junto à margem, uma donzela, uma moça, uma pessoa que lhe pergunta:

“Por que choras, príncipe sapo, e coaxas assim, diga-me?”

“Eu não posso chorar”, gritou o sapo, “minha bola dourada me escapou. Eu daria tudo para tê-la novamente comigo!”

“Tudo?”, perguntou a moça, “até tu mesmo, teu corpo e tua vida?”

“Tudo!”, replicou o príncipe sapo, pois a conversa já lhe parecia absurda e não tinha mais sentido. Pois o que significa: corpo e vida e tu mesmo?

“E tu casarias comigo?”

“Eu casaria contigo”, disse o príncipe sapo, “porém te apressa e apanhe a bola, pois tu também não consegues voar”.

Isso ele pôde dizer, pois ele havia pensado: como ela pode ser minha esposa, ela é imensa e muito gorda, nós não combinamos. E provavelmente ela também não consegue mergulhar.

“E eu poderia comer em teu pratinho dourado? E dormir em teu quartinho?”

“Simsimsim”, disse o sapo, “pois te apressa, senão a bola vai fugir”.

Então, a menina saltou um pouquinho no ar e alcançou a bola no último segundo.

Assim que o príncipe teve a bolinha nas suas mãos de sapo, disse alguma gracinha e mergulhou ao fundo.

Na certa ela havia pensado, a moça com certeza não saberia mergulhar, e com isso ele escaparia da sua promessa.

Porém, ela soube mergulhar.

Ela pulou com seu vestido e tudo e gritou atrás dele.

“Espera aí”, meu querido, eu mal posso te alcançar!”

O príncipe sapo nadava tão depressa com suas barbatanas para o palácio de seu pai. Ele bateu à porta atrás dele e ficou quieto diante de seu pai, o rei sapo, direito e discreto, pois o rei sapo era muito severo quanto às promessas.

De repente, alguém lá fora bateu na janela. “Quem é? Quem bate aí?, meu filho”, perguntou o pai. “Eu não conheço”, diz o príncipe, “Não sei. Não tenho a menor idéia.”

“Uma menina.” Replicou o rei sapo, pois ele pôde ver a moça pela vidraça. “É para ti? Tu fizeste com que ela se apaixonasse por ti?”

“Nãonãosim”, disse o príncipe, já disse que não”.

“Aha!”, exclamou o rei sapo, “prometeste a ela até casamento?”

“Humsim”, disse o príncipe e se pôs a rastejar debaixo da cadeira.

“Pois traga a moça para dentro e cumpra a tua promessa, pois a palavra de um sapo é a palavra de um nobre sobre a vida e morte.”

“Mas nós não damos certo, pai” replicou o príncipe sapo, “Ela é muito gorda. Enorme. Nada com ela não é como deveria ser.” − “Não interessa!”, exclamou o rei sapo. “Palavra é palavra e vale para sempre.”

Então o príncipe sapo abriu a janela e tentou puxar a moça para dentro. Porém ela era tão gorda, que ele até pensou, que assim ele manteria somente para si a promessa.

“Vá nadar lá fora”, ordenou o rei sapo. “E faça, o que tu prometeste!”

Então, o filho do rei sapo saiu a nadar, pegou a moça pela mão e nadou com ela pelo fundo do lago. Lá, acreditou que ela não poderia se manter por muito tempo, pois uma pessoa não é um sapo, e ela se afogaria. Então, ele acreditou que assim fugiria da sua promessa.

Porém, lá ela se sentiu muito bem, e ela falou:

“Tu não me prometeste que eu poderia comer no teu pratinho dourado?”

Então, o filho do rei sapo nadou de lá e apanhou seu pratinho. Trouxe com ele comida de sapo, minhocas, pois ele pensara, assim ela ia ficar com uma barriga verde, e com isso ele iria manter somente para si o prometido. Mas ela comera as minhocas com apetite.

“Tu gostas disso?”, perguntou o príncipe.

“Se gostas disso, meu querido, então eu também devo gostar.”

Aí, depois da refeição ela disse:

“E agora quero dormir no teu quartinho.”

Porém o quarto do filho do rei sapo era muito pequeno para uma pessoa, que era um pouco gorda, e o príncipe novamente pensou, lá ela vai se sufocar. E assim ele manteria somente para si o prometido.

Então, ele a trouxe pela mão e nadou com ela de volta ao palácio de seu pai. Ele a empurrou com força para o seu quarto e fechou atrás dela o capô, então, ele pensou até amanhã por si mesmo estaria resolvido.

Entretanto, quando ele retornou na manhã seguinte e abriu o capô, ela nadou feliz e despreocupada ao encontro dele.

“Dormiste bem?”, perguntou irado o filho do rei sapo.

Ela respondeu:

“Se é o teu quartinho e lá tu também dormes bem, então lá também eu devo dormir sempre bem, meu amado.”

Então, o filho do rei sapo tentou jogá-la contra a parede. Mas, ela era muito pesada. Por fim ele a agarrou e a engasgou com uma gravata, pois desse modo nenhuma pessoa poderia se manter debaixo d’água, e assim, ele pensou que ele manteria somente para si o prometido.

E ele percebeu, como ela ficou leve e mais leve. Quando no rosto dela ele olhava, ela se transformava de uma moça feia em uma bela e esverdeada rã princesa. Bela e tão verde que ninguém jamais viu coisa igual.

E quando o filho do rei sapo com sua noiva se dirigiu ao velho rei sapo, para lhe mostrar que ele pagou por sua promessa, disse o rei sapo:

“Veja, veja meu jovem”:

as rigorosas palavras do pai

são uma grande felicidade para toda criança.”

“Sim”, respondeu o filho do rei, e então o pai mandou atrelar os quatro mais velozes cavalos-sapos no barco de listas douradas, e o cocheiro Henrique trouxe-os para a ilha que tinha uma ponte para se tomar banho.

A caminho, eles ouviram um estampido e batidas. Foi quando o barco se partiu em dois.

“Henrique, as tábuas estão se quebrando!” gritou o filho do rei sapo.

Porém, não eram as tábuas. Era o aro de ferro que o fiel Henrique, servo do barco, mandou amarrar em seu coração, para que assim ele não se quebrasse, porque todos haviam pensado: ele, o mais belo e verde filho do rei não faria outra coisa em sua vida, a não ser brincar com a sua bolinha e não se casaria com ninguém. Isto aconteceu ainda por três vezes. E toda vez o príncipe sapo gritou: “Henrique, as tábuas estão se quebrando”.

“Não é o barco, são as tábuas, Senhor, que se quebram. É de novo apenas o aro de ferro que eu amarrei em meu coração, sobre o qual não se partiria de aflição por vocês.”

Ao todo eram três aros de ferro. E, de repente, tudo ficou calmo.

Sobre a pequena ilha, eles acharam uma casa de veraneio com chaminé, na qual eles podiam viver muito bem. A princesa rã conta ao seu esposo, que ela fora enfeitiçada. Ela fora ─ há muito tempo atrás ─ tão bonita como ela é hoje ─ filha de um rei sapo em um lago. Entretanto, ela nunca fora feliz. Uma vez, o belo verde de seu corpo não estava o verde que ela queria que fosse. Outra vez, ela provou a água que tinha muito sabor de peixe e outra vez ela provou muito pouco o sabor de peixe. As minhocas eram para ela muito curtas ou muito compridas. Resultado: ela era um pesadelo para todo mundo.

Então, o seu pobre pai foi até o sábio sapo Água-Verde, pai de todos os sapo, e lamentou-lhe a sua aflição.

“A maior infelicidade para ela seria”, disse o seu pai, “Tomaremo-lhe todos os seus vestidos e todas as jóias.”

“Não é o mal suficiente.”

“Então a gralha deverá assustá-la.”

“Ainda não é o suficiente.”

Então iremos encher as minhocas com pregos.”

“Não. Tudo isso ainda não é suficiente”, disse Água-Verde. Ela precisaria se transformar primeiro em um ser humano pobre e branco. Depois ela precisaria ser cortada em mil pedaços, e em seguida ser jogada em um abismo sem fim ou então ser engasgada com uma gravata debaixo d’água, para que assim o medo a torture e a quase mate”.

“Ó não, isso não”, apelou o seu bom pai, porém como Água-Verde era o sábio e tudo sabia, disse o pai:

“Se assim ela será feliz, assim deve acontecer.”

Foi, então, que ela se transformou nessa pessoa, vestida, e foi terrível.

“Porém tu, meu querido”, disse ela, “Tu me salvaste. Enfurecido”.

Mas agora a vida lhe era prosperidade e paz.

O filho do rei sapo pode pescar em sossego, e uma vez por mês eles visitam o velho rei sapo e escutam as suas severas palavras que ele coaxa.


Tradução do texto original em alemão para o português por: Benilton Cruz


Janosch (Horst Eckert), nascido em 11 de março de 1931) é um dos autores alemães mais consagrados como desenhista e escritor de livros para crianças.

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